Um dia eu percebi que poderia traduzir em imagens o meu encantamento por toda a poesia que enxergo no mundo. Estava me tornando fotógrafa.
Gosto de fotografar o que toca minha alma. As pessoas nas suas delicadezas. Os sonhos que atravessam seus olhares. Seus pertencimentos, suas terras, suas moradas. Os silêncios dos desertos. O infinito das águas. Os gestos e a grandeza, das pessoas e da natureza.
Tenho testemunhado essa relação tão intrínseca entre o ser humano e a natureza nas minhas andanças pelas comunidades tradicionais, de povos originários do nosso país: quilombolas, ribeirinhos, marisqueiras, apanhadores de sempre-vivas. Um Brasil profundo, pouco visível, negligenciado pelas políticas públicas, atravessado por relações de poder que oprimem, ameaçam e ceifam os Direitos Humanos. Nessas aproximações, escutei histórias marcadas por muita privação e sofrimento. Mas bastou chegar mais perto para ouvir além da dor, e enxergar as tantas belezas guardadas.
Diante da pobreza material, do cenário árido, existe uma enorme riqueza humana, onde sobra generosidade, riso aberto, prosa fácil, abraço apertado, afeto gratuito e muito acolhimento. Um povo que compartilha seus tantos saberes, adquiridos a partir de uma intensa conexão com a terra, com suas raízes e seus ancestrais; que são verdadeiros guardiões desses tesouros. Um povo que é sinônimo de resistência, que luta incansavelmente para garantir seu pedaço de terra, de onde vem o sustento, o orgulho pelo trabalho e o pertencimento. Que, a despeito de tanta distopia, segue com força para manter a dignidade e a esperança em dias melhores, reinventando a vida constantemente.
As imagens que produzi foram fruto de encontros vívidos com essas pessoas, em que foram criados laços de afeto, respeito, admiração e muito aprendizado. Junto deles, sempre volto a acreditar na força dos sonhos, naqueles que são sonhados coletivamente, atados aos laços que nos unem, e que nos fazem seguir.
Seja bem-vindo para conhecer algumas dessas imagens! Ficarei muito honrada se alguma delas despertar em você algum afeto. Parafraseio o que lindamente disse o escritor Mia Couto: um fotógrafo é aquele que é capaz de engravidar os outros de sentimento e de encantamento.